terça-feira, 24 de julho de 2007

A OBRA DE TALHA E O RETÁBULO


CONCEITOS:

TALHA: entalhes de pedra ou madeira.
RETABULO: peça que fica atrás da tribuna, do altar, da mesa; parte posterior do altar, onde se colocam as imagens dos santos.

ORIGENS:

Oriundo dos dípticos e trípticos da Idade Média, o retábulo passou a ser usado no Renascimento em forma de mármore e pedra, na Itália, e madeira, na Espanha, resultando em uma grande desenvoltura, desde o gótico, principalmente na arte sacra.

No Brasil, os primeiros retábulos foram feitos de pedra. Com a vinda dos jesuítas passa-se a construir os de madeira. Os mais antigos estão em Pernambuco.

Os retábulos vão ter, de início, um nicho central. Os de madeira são desenvolvidos com vários nichos já que a quantidade de imagens vai se aumentado, principalmente com a vinda de outras ordens e do desenvolvimento do próprio retábulo.


CLASSIFICAÇÃO:


Evidentemente que devemos contar com os tipos originários das épocas gótica e renascentista, mas para efeito de arte sacra brasileira, temos a seguinte tipologia.


1o GRUPO: JESUÍTICO OU RENASCENTISTA. Fins do séc. XVI e início do XVII.

Þ Possui estrutura linear – forma de painel – e os seus ornamentos têm características maneiristas, ou seja, com motivos geométricos. Possui relevo baixo e acanhado porque ainda não se tem muita técnica.
Þ É comum a utilização de elementos fitomorfos, como folhas de acanto, e proporcionará o inicio do uso de elementos da natureza brasileira. Suas linhas de composição são inspiradas nos túmulos romanos do séc. XV.
Þ No topo, apresenta um painel ladeado por caprichosas volutas. Suas colunas são decoradas, sendo 2/3 do fuste em caneluras e o terço restante decorado com elementos fitomorfos, encimados por capitel coríntio e base com mesmas características da decoração.
Þ Tem função plateresca. Ou seja: possuem aspectos que lembram trabalhos em prata, feitos em baixo-relevo.



2o GRUPO: FRANCISCANO, ROMÂNICO ou ESTILO NACIONAL PORTUGUÊS. Meados do séc. XVII e princípio do séc. XVIII.

Þ Representa a consolidação do Barroco.
Þ A coluna se modifica, pois há uma adoção da coluna salomônica, onde o movimento do conjunto é a ascensão em espiral. São as chamadas colunas torsas.
Þ O fuste dessas colunas é decorado com elementos fitomorfos (cachos de uvas, folhas), zoomorfos (aves, principalmente a fênix) e antropomorfos (anjos), todos de inspiração oriental.
Þ O relevo vai encher, ganhando, assim, mais corpo.
Þ Possui características românicas – adoção do arco semicircular no alto da composição em arquivoltas concêntricas, e as colunas colocadas de maneira a formar uma cova em profundidade, ficando o retábulo com aspecto de portada românica. Mas é o escudo que fica por cima que caracterizará o estilo românico. Além dessas características, possui o uso da douração total.


3o GRUPO: BARROCO PROPRIAMENTE DITO. Meados do séc. XVIII.

Þ Sua diferença está no rompimento da composição sempre definida dos retábulos anteriores.
Þ Os elementos decorativos aparecem em maior quantidade, assumindo uma liberdade ao extremo. Os elementos fitomorfos são bastante empregados, atestando o delírio decorativo deste estilo.
Þ Apresenta ainda elementos antropomorfos, com variações de anjos que são espalhados em abundância sobre os elementos fitomorfos, de tal maneira que a marcação geométrica da composição desaparece submersa no excesso.
Þ Surgem também elementos estranhos como peanhas com santos protegidos por dosséis e imitações de cortinas talhadas em madeira.
Þ O artista certamente usou livremente a imaginação, onde as formas surgem de maneira tumultuada.


4o GRUPO: DO ROCOCÓ ao NEOCLÁSSICO. Fins do séc. XVIII e início do XIX.

Þ A estrutura da composição volta-se para uma perfeita definição com reações aos excessos anteriores. É o chamado barroco-rococó.

Þ As colunas salomônicas são substituídas por colunas estriadas e capitéis coríntios. Somente a parte inferior dessas colunas preserva-se torsa e as peanhas são conservadas com santos e dosséis.
Þ As arquivoltas concêntricas são desiguais. Dois planos com uma intermediária côncava. A marcação readquire nitidez, com tratamento minucioso na decoração.

Outras características:

Þ Curvas e contra-curvas;
Þ Concheados;
Þ Penachos tripartidos;
Þ Plumas e folhas cobertas de outro que destaca o fundo;
Þ Aplicação de douramento é usada apenas nos relevos delicadamente talhados;
Þ As superfícies vazias de fundo são pintadas de branco. Efeito de aplicações sobrepostas, o que sugere uma certa dissociação entre os relevos e o corpo da obra devido aos efeitos de cores.



TIPOS DE RETÁBULOS SEGUNDO DOIS AUTORES BRASILEIROS.



Segundo Lúcio Costa:

a) PROTOBARROCO:

Lembra um grande móvel. Possui uma fachada arquitetônica retangular e um entalhamento entre frontão e colunas, fuste, capitel e canelura. As formas são côncavas e convexas, com pinturas (painel) substituídas por esculturas. Pode-se encontrar exemplos desse tipo na Catedral da Sé em Salvador, juntos também com os de “transição”.

b) BARROCO FRANCISCANO:

Colunas torsas (parafuso) revertidas de folhas de acanto, cachos de uvas, cabeças de anjos e cantoneiras. Suas colunas servem de suporte para os arcos. Entre uma coluna e outra há um pilar lembrando portadas românicas. Possui camarim, onde ficam as imagens. Verifica-se, também, a azulejaria.

c) BARROCO DIVERSO:

Colunas torsas. Entre uma coluna e outra se pode notar o nicho com dossel, esculturas e anjos. É mais escultórico e trabalhado, com policromia e atlantes na cantoneira.


d) ROCOCÓ:

Possui dois momentos: o primeiro, com colunas torsas; e um segundo com caneluras ou com guirlandas. Fundo branco ou azul, tons pastéis. Esculturas ainda arqueadas e com maior leveza. Desaparecem os elementos zoomorfos, ficando apenas os antropomorfos.

e) NEOCLÁSSICO:

Pouco escultórico, mais suavizado e com retilineidade. Técnicas escariolli que significa a imitação do mármore a partir da madeira.


Segundo Afonso Ávila:

a) Nacional-português – seria similar ao Barroco Franciscano definido por L. Costa;
b) Joanino – similar ao Barroco diverso trabalhado por L. Costa;
c) Rococó – que acompanha a análise de L. Costa;
d) Neoclássico – que também assume a análise de Costa.